A RAPOSA E A GARÇA
 
Uma fábula antiquíssima fala de uma garça-real, que por motivos 
ignorados afastou-se do seu ambiente natural, indo parar à beira de um 
grande lago numa floresta encantada.

Ali, longe da sua família e da sua costumeira habitação, a garça 
deixou-se quedar melancólica, contudo, sem perder aquela imponência do 
seu porte distinto e elegante e também sem alterar a cadência dos 
passos.

Desorientada, ela deixou-se ficar junto ao lago, alimentando-se dos 
peixinhos que ali se reproduziam em quantidade.

Certa tarde, a raposa saiu para apanhar água no lago e viu, à distância, 
a pobre garça que caminhava lentamente pelas margens do lago.

Achou-a elegante demais e com ares meio presunçosos. Contudo, 
aproximou-se dela, apresentando-se e hipocritamente se mostrou amiga.

Depois de algum tempo, a garça, já mais ambientada, montou sua casa. 
Uma mansão digna de uma garça-real!

A raposa, cheia de inveja, jurou humilhar a nova amiga e, ao 
encontrá-la novamente no lago, convidou-a para cear com ela no dia 
seguinte.

Na hora marcada, lá estava a garça muito cerimoniosa e recatada.

A raposa serviu a sopa que preparou em pratos rasos e, fingindo 
naturalidade, pediu à amiga para tomar a refeição.

É claro que a garça só pôde engolir algumas poucas gotas, pois o seu 
bico longo não a permitia sorver nada além disso.

Sem demonstrar abatimento, a garça combinou com a raposa um almoço em 
retribuição à ceia que acabara de participar.

Havendo aceitado prontamente o convite, a raposa compareceu no dia 
determinado.

Tudo estava impecavelmente preparado.

O bom gosto era evidente em cada detalhe; e o cheiro da sopa despertava 
o apetite sempre aguçado da hóspede.

Conversaram um pouco, enquanto sorviam um fino cálice de um licor 
natural daquela floresta.

Finalmente, a garça convidou a amiga para o almoço já servido na copa.

Entraram.

Sobre a mesa se encontravam duas garrafas de gargalo longo, cheias 
daquela suculenta sopa.

Sentaram-se e a hospedeira, metendo o seu longo bico dentro da garrafa, 
sorveu toda a sopa, enquanto a amiga engolia a saliva....

A retribuição do mal não foi um acerto de contas, porque ambas 
continuaram devedoras e inimigas mortais!


Autor não mencionado
Enviada por Meire - Mensagem da Paz


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